Iminência

A única certeza que tenho é a de que tudo vai acabar, alguns lugares irão desaparecer, outros irão morrer, os que viverem farão parte da minha memória e da memória de outros que como eu ficarem aqui mais um pouco. Ao contrário do que se pensa, saber que tudo se acaba não é ruim de maneira alguma. Ter consciência que minha vida é finita nesse mundo, me traz segurança e maior liberdade de viver cada segundo que nele estou, hoje entendo muito mais quem sou e por quê vim, e não preciso explicar para ninguém isso, pois já entendi meu contrato.

As pessoas que causam problemas na minha vida, ou os problemas que de repente aparecem indiretamente para mim, eu as sinto, eu lido com elas como um humano; estremeço e estresso, erro e acerto. Contudo, no fim do dia, sei que elas também não estarão mais comigo, pois não são em mim uma parte. O que delas extraio, soma-se a quem eu sou, e só isso. Meus problemas em realidade não existem, e portanto, não me afetam para todo o sempre, como acontecia antes.

Gratidão é um sentimento que brota verdadeiramente naqueles que sabem que vão perder. Não àqueles que sabem que podem perder, porque “poder perder” se torna uma segurança de que há chances de não perder. Por isso, repito: gratidão é um sentimento que brota verdadeiramente naqueles que sabem que vão perder. Tenho 33 anos agora, logo mais farei 34, e depois 35, 36, 37, e 38. Em realidade, já se perguntou por que comemora-se aniversários de 10 anos, 25 anos, 50 anos de alguma coisa? Por que múltiplos de cinco são mais importantes que múltiplos de 3, de 2, ou mesmo de 1? Porque acredita-se que a vida só fará sentido, só terá sido especial quando chegamos nos 5, nos 10, nos 25. Minha vida já tem sentido hoje, e por isso, comemorarei meu 34 como comemorei meu 33! Estou cercado daqueles que amo, estou cercado de Amor, não preciso esperar mais nada; eu o sinto em mim, desde que me entreguei à sua vontade.

Sou feliz. E devido a isso, desejo a todos quando chegam o dia de seus aniversários que tenham uma nova jornada, um novo renascer. Os levo um pouco da Esperança que aprendi a cultivar, embora muitas vezes não pareça. A Esperança pisou nessa terra há dois mil anos, e hoje habita em todos nós, e abençoa estes dedos que teclam este texto esta noite. Só a Esperança nos eleva, visto que em sua etimologia, “esperança” veio de “confiar naquilo que é positivo”. Ou seja, toda esta vida deve ser norteada pela Esperança. As vidas daqueles que só sabem do negativo, é porque não perceberam ainda que este sequer existe. E aqui acrescentaria risos meus, pois O sinto rir dentro de mim. A Esperança pode vir como uma grande luz que ilumina um grande espaço, ou apenas como uma grande pedra que se quebra sobre uma superfície e a destrói. Ambos são pólos de uma mesma coisa, como os sábios de outrora nos deixaram como ensinamentos.

A iminência de se ter um fim próximo me traz a consciência de que cada dia que me resta, é um dia válido a ser vivido, seja de qualquer maneira que eu queira vivê-lo. É saber, sinceramente, que devo assumir a responsabilidade de como vivo o resto da minha vida finita. Não me importa os julgamentos alheios mais, pois sei que cada momento é único e eu sou o único autor dessa história. Esse tal do fim presente todos os dias, devia ser algo natural para todos nós, pois Renato Russo nos cantou a maior verdade que não gostamos de aceitar: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você para para pensar, na verdade não há.”

De fato, o amanhã não existe. Posso ter um infarto fulminante daqui a pouco. Amanhã posso ser atropelado por um carro ao atravessar a rua, posso contrair uma doença que me levará mais cedo… Enfim, aqui estou e amanhã posso não estar. Porque estamos nesta vida, não somos desta vida. Estamos de passagem. Hoje sou um presente, em breve terei passado, serei apenas memória daqueles que vieram depois de mim. Se a vida fosse uma estação de trem, nós seríamos os vagões: se ficamos na estação é por um curto período de tempo, logo devemos continuar nos trilhos, logo devemos ir para próxima estação.

A tal da iminência me traz valores. Não tenho tempo pra pensar no que fiz ou que não fiz antes, no que devia ter feito diferente, como tratei ou destratei alguém. No agora, quero cuidar, quero me preocupar, quero fazer aquilo que não fiz mas que gostaria de tentar uma vez. Quero ter a experiência de ter vivido o tempo que me foi dado para viver, pois cada minuto que passo com minha mãe, com meu cachorro dourado, com meus amigos, com meus colegas de trabalho, com pessoas que cruzo no transporte público ou no escritório, é um minuto que eu tenho que aprender. E para aprender eu tenho que experimentar, eu devo passar pela experiência do Todo, e para isso devo me somar a todas as Unidades, pois apenas no conjunto delas é que terei o completo.

Portanto, me sinto grato por estar aqui com todos vocês. Me sinto grato de poder viver com vocês, e compartilhar a Esperança que me foi dada em 7 mil páginas, em 7 mil dias. Desejo que tenhamos ótimos momentos juntos. Que eu tenha alguns péssimos momentos a sós também, porque é na solitude que me encontro por completo, é dentro de mim mesmo que sei que sou plural. Que você tenha com quem contar para te levantar, é claro, mas é importante que saiba que não há como subir uma escada se não for sozinho. Mesmo que alguém tivesse erguido seu pé direito, sem a sua vontade o mesmo pé não se fixa no degrau.

No mais, reitero uma última mensagem a todos que me leem, porque escrevo para ser lido, como diz sabiamente Cortella. Não temos muitos anos como os tantos outros que vieram antes. Conecte-se com seu interior, busque. Uma aventura magnífica nos aguarda iminentemente.

Lhes ofereço a Luz. Aceite a Luz, não o medo.

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