Perfeição

A perfeição é uma vírgula numa sentença infinita. Ao alcançarmos a vírgula, sabemos que concluímos uma ideia, mas que ainda temos que continuar a leitura. A perfeição funciona como uma vírgula. Quem busca excessivamente a perfeição, se frustra pois ela não pode ser adquirida em vida. A perfeição combina com a morte. Dou um exemplo, quando terminamos um desenho e dizemos: “Pronto, perfeito!”, o que estamos querendo dizer para nós mesmos?

“Está perfeito!” significa que acabamos, que não há mais nenhum erro ou arestas para acertar; está perfeito quando está acabado, quando está completo, certo? No entanto, aquilo que está acabado, assim está porque já foi, agora que ele está completo, perfeito, e acabado, ele pertence ao passado. Aquilo que é perfeito se tornou memória. Ou seja, aquele que diz que algo está perfeito é porque matou o objeto; da mesma forma, aquele que se julga perfeito, já está morto.

Eu e você não vivemos no passado. Nós vivemos no presente, pois só ele existe de fato. Portanto, não posso me julgar perfeito ainda, pois estou em construção constante. Você não pode ser acabada no presente, é uma contradição temporal e gramatical. A perfeição verdadeira não é um substantivo, ela é um verbo e no gerúndio. Você não é o fazer, mas o fazendo. Você nunca chegará a ser o feito.

Contudo, a perfeição existe. Ela é como o horizonte, ela serve como ponto de chegada, uma hipotética chegada, porque ao dar um passo rumo ao horizonte, o horizonte, por sua vez, dá um passo pra trás. A perfeição é uma placa de sinalização nos orientando a seguirmos em frente, a estarmos em movimento. Dessa forma, ainda que não exista por si, ela nos dá uma lição importante.

Importante lembrar que a chegada não existe, apenas o chegar. O caminho existe, mas a partida e a chegada não. Porque cada movimento seu é, em si mesmo, o início de um passo, e o fim deste. Assim como a respiração em si não existe, pois o inspirar foi o seu nascer, e o expirar será seu morrer. Você não pode ser duas coisas diferentes, pois a dualidade ainda que aparente, não passa de uma ilusão. Isso é perfeição.

Não digo ao anular a ideia de sermos perfeitos que devemos não buscar nada. Pelo contrário, mesmo que você não quisesse, você já está em constante aperfeiçoamento. Estamos sempre aprendendo algo novo. Podemos nos aperfeiçoar no caminho da luz ou da escuridão, podemos desenvolver nosso caráter positiva ou negativamente. Independente do que façamos, estaremos sempre nos aperfeiçoando, para que um dia sejamos perfeitos. Completos. Acabados.

E assim, perfeitos, completos, acabados será o dia no qual não mais existiremos. Teremos nos tornado o tudo, e seremos o nada. Teremos voltado à Fonte, a faísca terá se tornado a chama, a onda terá se tornado o mar. O Eu não mais existirá, e o Amor reinará absoluto.

E ainda assim, não teremos fim, porque somos todos vírgulas em Sua sentença infinita.

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