Quem vem comigo?

Por que, depois de tantos anos, ainda vivenciamos o racismo? Por que, depois de tantas gerações, ainda há o sexismo? Por que, depois de tantas vidas perdidas, ainda convivemos com o preconceito? Eu lhe respondo o porquê: porque estamos travando as batalhas erradas. Estamos lutando por igualdade nos enxergando diferentes uns dos outros. Por isso que a nossa história se repete. Por isso que estamos vendo o nosso futuro repetindo nosso passado. Porque estamos vivendo nosso passado, e projetando expectativas no nosso futuro. Não estamos no agora, não estamos conscientes de quem somos realmente. Não somos seres inteligentes por isso. E estamos perpetuando nossas batalhas internas no externo. Repito: estamos lutando por igualdade acreditando que somos muito diferentes uns dos outros.

Proponho a partir daqui uma “nova” visão de mundo. Uma visão que já existe aí dentro de você, uma vez que você se deixe ouvir. Há muitas culturas no mundo que falam sobre a dualidade. A dualidade não significa que hajam opostos, ou seja, que haja um bem e um mal que sejam contrários entre si. A dualidade significa que há um equilíbrio na criação, há um nível de bem e um nível de mal e que isso é natural. A noção de pólos opostos é uma ilusão. O amor e o ódio são níveis de uma mesma coisa, não temos um termo para definir essa coisa. No entanto, nada pode ser 100% amor ou 100% ódio nesta vida dual. Precisamos vivenciar o inferno para distinguir o paraíso. Isso é o que realmente significa dualidade. Isto é, ser dual é ser equilibrado.

Como podemos atingir esse equilíbrio, você talvez me pergunte. Acho que minha vinda aqui foi para descobrir exatamente isso. Vou me dar como exemplo.

Estar em equilíbrio com a criação significa, portanto, reconhecer que eu, Víctor, não sou masculino. Sou um homem, em termos biológicos, tenho um corpo de homem. E isso me permite, no espectro estritamente físico, me reproduzir quando me relacionar sexualmente com uma mulher, que, por sua vez, também em termos biológicos, possui um corpo de mulher. Contudo, eu, Víctor, não sou só masculino, também sou feminino. No meu corpo, no meu espírito, na minha alma, no meu campo energético, a minha luz não tem gênero. Porque eu derivo daquele que é Perfeito. Sou um centelha da Luz eterna, e por isso, não sou masculino, nem feminino.

Eu, Víctor, não sou moreno. Minha pele tem cor de… pele. Minha cor não é só minha cor, é da minha mãe, dos meus avôs, dos meus tios, dos meus amigos, dos meus companheiros. Qual é a régua que mede até que ponto alguém é branco, negro, pardo?

Eu, Víctor, não sou hétero. Não amo homens, mas também não amo mulheres. Amo pessoas. A atração física pode acontecer por ambos os tipos biológicos. Não amo mais um a outro. Se amo alguém, amo esta pessoa por aquilo que ela é, não por aquilo que ela habita momentaneamente. O prazer do verdadeiro Amor dura mais do que meras preliminares físicas. O verdadeiro orgasmo é Amar alguém, como eu a Amo.

Quando nascemos, os médicos e os enfermeiros, nos rotulam como meninos ou meninas, e se esquecem que não somos esses termos ilusórios. Somos pessoas, somos humanos. Todos os preconceitos surgiram no momento que nos vimos diferentes uns dos outros. Ao ser diferente, ao rotular-me de outra coisa qualquer, me distancio da responsabilidade de ser quem eu sou. Ao falar que sou branco, e que você é negro, crio uma distância entre nós dois, e esqueço por opção de que eu sou responsável por você, pois ambos somos frutos da mesma árvore. Ao falar que sou branco e que você é negro, me reconheço como “eu” e me distancio do “nós”.

“O que as pessoas brancas tem que fazer é tentar descobrir em seus próprios corações por que é necessário ter um ‘negro’ em primeiro lugar, porque eu não sou um negro. Eu sou um homem. Mas se você acha que eu sou um negro, é porque você precisa disso.” – James Baldwin

Nós somos humanos. Eu sou branco. Eu sou negro. Eu sou masculino. Eu sou feminino. Eu sou cis. Eu sou trans. Eu sou gay. Eu sou lésbica. Eu sou velho. Eu sou jovem. Eu sou bom. Eu sou mau. No fundo, todos esses “eus” são “nós”, uma vez que os rótulos não sejam mais válidos. O ser humano é como uma cebola, temos camadas e mais camadas, e ao retirá-las choramos, pois nos livrar daquilo que acreditamos que nós somos é muito difícil. Se retirarmos todas as camadas que nos cobrem, o centro da cebola será idêntico a de outra cebola. No momento que despertarmos para essa verdade, não mais será necessário travar as batalhas sem fim que estamos travando há milênios.

Quero que as mulheres tenham os mesmos direitos dos homens. Quero que os negros sejam tão protegidos e cuidados quanto os brancos. Quero que os LGBTQ e o resto do alfabeto sejam respeitados como os héteros. Quero que as crianças tenham o mesmo cuidado que os idosos. Assim, cheguei à conclusão de que só haverá igualdade quando a luta passar a ser por igualdade verdadeira:

Quero que todas as pessoas desse planeta sejam respeitadas, e tenham o direito de viver uma vida digna como seres humanos. Não como os homens. Não como os héteros. Não como os brancos. Quero que todos nós sejamos reconhecidos como seres humanos tão-somente. A partir dessa escolha, não mais teremos diferenças entre nós, pois ser humano significa viver em equilíbrio, significa ser dual. Ser humano engloba tudo que nós somos.

Respeitar o ser humano é respeitar a própria espécie. Respeitar as escolhas uns dos outros, porque a partir dessa hora que nos reconhecemos como humanos, absolutamente nada é considerado como estranho, como diferente. Podemos, sim, em escalas superficiais, ou seja, relativos à matéria, ter a opção de ser Corinthianos ou Palmeirenses; de gostar de pagode ou de raves; de vestir saias ou shorts; de assistir novelas ou séries… Contudo, em nosso interior, em nosso centro, sabemos que temos os mesmos direitos e deveres que qualquer outro ser humano.

Esta é a verdade que ninguém neste momento está pronto para ouvir. Porque abdicar de todas essas etiquetas significa ter que ver e aceitar quem nós somos. Desistir de todos os nossos “eus” e lembrar que somos “nós” é uma jornada. E eu acho que é justamente à esta jornada que meu Mestre, no alto do Hermon, nos avisou que nos aguardava ao atravessar o batente da morte.

Este é, ao meu ver, o grande passo da Humanidade. Esta é a verdadeira rebelião. E digo mais, enquanto não fizermos isso, não poderemos salvar esse planeta. Porque uma vez que todos esses movimentos sociais que estamos tendo no momento nos levarem para o que propus neste texto, o próximo passo será voltar a nos conectar com a Terra. Desse modo, não seremos mais vistos como seres humanos, mas sim como Terráqueos, pois isto implicará que respeitamos a Natureza como a nós mesmos, pois nós somos a Natureza.

Todavia, precisamos começar por nós mesmos. A educação das crianças que virão deverá ser como o que propus, mas não devemos esperar que essas sementes cresçam. Quem puder fazer a escolha de despertar agora para esta verdade, por favor, assim o faça. Volte a tomar posse de si mesmo, volte a se responsabilizar sobre quem é. Todos temos chance de mudar. Todos os dias temos a chance de mudarmos a nós mesmos, basta que façamos uma escolha.

Coloque na balança e veja o que vale mais: amar a si mesmo ou Amar?

Um comentário sobre “Quem vem comigo?

  1. Muito boa reflexão, hein! Creio que nosso regresso esta sendo maior que o progresso, pelo simples fato de termos que vestir uma camiseta imposta por uma sociedade, local trabalhista e ou familiar. Desta forma, nossos pensamentos começam a mudar, assim como nossas atitudes. Desta forma, podemos colocar em ponto principal um dos motivos deste retrocesso a ganância. Ao invés de estarmos retirando essa camadas, como mencionado no texto, estamos apenas aumentando, e assim comprando o silencio do muitos.

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