Positivo

Num mundo onde tudo é impermanente, suponho ser impossível que nos mantenhamos sempre em um único estado. Devo, porém, supor que o que vivemos parece ser uma teste para ver se encontraremos o equilíbrio entre os pólos. Assim como não se faz uma boa música apenas com notas agudas, mas também com as graves, nossos dias parecem ter que mesclar sentimentos perante o mundo e a nós mesmos a todo momento. Nos é permitido sentir o que quisermos sentir, nos ensinam na catequese desde crianças, que nos foi dado o livre arbítrio, no entanto, não nos ensinam nada além disso. Não nos ensinam sobre o Ritmo da vida.

“Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.” (O Caibalion)

Enquanto há tantas coisas ruins acontecendo ao seu redor, é comum pensar que só elas existem, ou seja, só as coisas ruins existem. Contudo, seguindo o princípio do Ritmo, descobrimos que se há toda essa onda de negativismo, é porque também há a onda contrária de positivismo. Podemos não vê-la neste exato momento, todavia, não é porque não vejo algo que isto significa que não exista. Eu não vejo você que está lendo este texto, e ainda assim você existe. O reconhecimento alheio nunca vai ser necessário para a existência de qualquer coisa que você acredite existir. A partir do momento que você opta por acreditar, você cria.

Por isso, não acredito que tenhamos que estar todos os dias nos sentindo bem, afinal, quanto mais consciência do mundo, mais compaixão você desenvolve, e mais dor você sente. Acontece que é preciso aceitar as dores para que possamos sorrir um dia. É preciso suportar alguns dias de noites escuras, para dar valor à luz dos dias de sol. Seria ótimo se pudéssemos apenas sentir felicidade, mas só conseguimos reconhecê-la a partir do momento que sentimos o que é não ter felicidade. O que podemos fazer, então, para que mudemos nosso foco do negativismo e partamos para mais dias positivos?

“Toda a Causa tem seu Efeito, todo o Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei.” (O Caibalion)

Quer ver coisas mais positivas? Seja positivo. Quer ver mais coisas negativas? Seja negativo. A vida é muito simples. A vida será o que você quiser que ela seja. Se você pensar que a vida é difícil, que é complexa, ela vai ser assim para você. O grande responsável por ela é você. Não são seus pais, não é o presidente, não é o seu chefe, não é o padre. Você. No diálogo entre Sócrates e Critão (em Críton, livro de domínio público), Sócrates explica o porquê que escolhe não fugir da prisão, e escapar da morte. Embora ele não tenha sido preso de forma justa, seria injusto por parte dele subornar aqueles que o prenderam, para que assim fugisse e se mudasse de cidade. Sócrates compreendia o princípio da Causa e Efeito, e concluiu que se assim o fizesse, não seria diferente daqueles que o prenderam.

“(…) Mais: ainda que tenhamos de experimentar momentos quer ainda mais dolorosos, quer mais suaves, o procedimento injusto, em qualquer hipóteses, não é sempre, para quem o tem, um mal e uma vergonha? (…) Logo, jamais se deve proceder contra a justiça. (…) Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível.” (Sócrates)

Algo similar aconteceu com Korey Wise, conhecido por ficar encarcerado indevidamente por 13 anos, em Nova Iorque, devido ao caso dos Cinco do Central Park (assista a minissérie “When They See Us”, na Netflix, para entender melhor). Por 13 anos ele permaneceu preso, e teve inúmeras chances de ser liberado caso “assumisse” ter cometido os crimes de que foi acusado. Nunca assumiu e permaneceu fiel à sua verdade, o que eventualmente o levou a uma jornada de duras provas. Ele teve que encontrar o positivo no meio do negativo. Há quem diga que aquilo que Korey Wise ou Sócrates passaram foi em vão, pois suas vidas foram afetadas muito mais negativamente do que o oposto. Mas, quem pensa assim, ainda não saiu da bolha que criou para si.

“(…) porque entre fazer mal a uma pessoa e cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma. (…) Em suma, não devemos retribuir a injustiça, nem fazer mal a pessoa alguma, seja qual for o mal que ela nos cause.” (Sócrates)

O que eles passaram não serviu apenas para eles. Eu aprendi muito com o que tomei conhecimento sobre Sócrates. E tanto quanto em relação a Korey Wise. E com tantas outras histórias que acabei conhecendo na minha vida. Quando se cria consciência de quem é, se esquece de si mesmo, e se se transforma em vários outros. O exemplo deles me traz forças para ver mais coisas positivas no mundo; de encontrar esperança no meio de tanto medo deste mundo.

Após ter plantado suas sementes, lembre-se: os frutos que colher conterão muitas outras sementes dentro deles. O que fará com elas? Pare. Reflita. Pondere.